Passadiço do Paiva |
-- "Chocalhos? Não me lembro da última vez que ouvi chocalhos. Há gado aqui? Nas margens do rio? Em liberdade? Onde? "
-- "Oh minha filha, aqui, o tempo parou. Há meia dúzia de casas na aldeia e pouco mais. Lembraram-se de construir esse caminho de madeira, rio acima. Anda para aí muita gente. Queira Deus que não afugentem o gado e deixem lixo por todo lado."
Percorri o Vale do Paiva com o olhar, ainda incrédula. No fundo da encosta, na margem oposta, lá estavam elas, as cabras serranas a matar a sede. Em dias quentes, como o de hoje, descem o monte à procura de água.
O meio dia aproximava-se a passos largos, quando saímos de Espiunca. Na praia fluvial já havia gente a abrir as cestas e a estender as toalhas de linho, no pequeno areal. Estava na hora do piquenique.
O sol, abrasador, espreguiçava-se pelas escarpas rochosas, que desenham o traçado irregular do Passadiço, obrigando os caminhantes a reforçarem a ingestão de líquidos e a paragens mais frequentes. Nada que nos intimidasse. Havia muita sombra.
Os primeiros quilómetros do percursos fazem-se em terreno plano, a escassos metros da água, onde a vegetação alta é abundante. Por vezes o passadiço é interrompido por caminhos de terra batida, que já ali existiam. A mata é densa. A terra seca e poeirenta dificulta a caminhada, mas a extensão dos trilhos é curta.
Retomamos o Passadiço, construído em madeira de pinho tratado e ancorado em ferro no maciço rochoso. Há quem almoce por aqui. Nas grutas cavadas na rocha pelo tempo, Nas margens, quando acessíveis. Ou junto às quedas de água. Na margem oposta avistam-se pescadores, audazes, literalmente debruçados sobre o Paiva. Homens da terra, que conhecem a serra como a palma das mãos e as manhas do rio, que ora corre tranquilamente, ora serpenteia revolto no fundo do desfiladeiro.
Estamos a caminhar há quase duas horas. Aproximamos-nos da praia fluvial do Vau, finalmente. O areal é pequeno. Acastanhado e poeirento. Recortado por pedregulhos que se prolongam rio adentro. O sol espreita aqui e ali, entre as sombras enormes que os chorões projectam sobre o areia. Os banhos não são aconselháveis, mas há gente na água. O caudal do rio, extremamente baixo, permite travessias, mas há perigo de queda. O leito está coberto de lodo.
É a nossa vez de estender a toalha e de aconchegar o estômago. Trouxemos pão da serra, enchidos e queijo. Vinha mesmo a calhar uma cesta a seguir. Mas não nos podemos demorar, dizem que há mais de 500 degraus para subir.
Uma ponte! Há uma ponte suspensa sobre o rio, a escassos metros da praia. Um miradouro de ambos os lados. E meninos do rio. Aqui também há meninos do rio. E ninguém lhes paga para se atirarem à água. Fazem-no ao desafio.
A sombra escasseia à medida que subimos em direcção à Garganta do Paiva. O percurso é íngreme. A vegetação rara e rasteira. A longa subida que dá acesso à escadaria serpenteia pela serra. Parece não ter fim. Há quem decida voltar para trás. E quem não se dê por vencido.
Uma vez alcançados os degraus de madeira, é precisa coragem para subir ao topo, depois de quase três horas de caminhada. Do miradouro...ah, do miradouro podemos abraçar Vale do Paiva.
A praia fluvial do Areinho fica a cerca de dois quilómetros. O percurso é descendente, mas há quem, tal como eu, prefira inverter o sentido e regressar a Espiunca.
O areal da praia fluvial de Espiunca continua repleto de gente. Há bolo caseiro à venda e fruta fresca. Pedimos uma fatia e sentamos-nos a dois ou três palmos da água. O som dos chocalhos...outra vez o som dos chocalhos! Levanto os olhos e lá vão elas, as cabras serranas, monte acima, indiferentes à nossa presença.
Os primeiros quilómetros do percursos fazem-se em terreno plano, a escassos metros da água, onde a vegetação alta é abundante. Por vezes o passadiço é interrompido por caminhos de terra batida, que já ali existiam. A mata é densa. A terra seca e poeirenta dificulta a caminhada, mas a extensão dos trilhos é curta.
Retomamos o Passadiço, construído em madeira de pinho tratado e ancorado em ferro no maciço rochoso. Há quem almoce por aqui. Nas grutas cavadas na rocha pelo tempo, Nas margens, quando acessíveis. Ou junto às quedas de água. Na margem oposta avistam-se pescadores, audazes, literalmente debruçados sobre o Paiva. Homens da terra, que conhecem a serra como a palma das mãos e as manhas do rio, que ora corre tranquilamente, ora serpenteia revolto no fundo do desfiladeiro.
Estamos a caminhar há quase duas horas. Aproximamos-nos da praia fluvial do Vau, finalmente. O areal é pequeno. Acastanhado e poeirento. Recortado por pedregulhos que se prolongam rio adentro. O sol espreita aqui e ali, entre as sombras enormes que os chorões projectam sobre o areia. Os banhos não são aconselháveis, mas há gente na água. O caudal do rio, extremamente baixo, permite travessias, mas há perigo de queda. O leito está coberto de lodo.
É a nossa vez de estender a toalha e de aconchegar o estômago. Trouxemos pão da serra, enchidos e queijo. Vinha mesmo a calhar uma cesta a seguir. Mas não nos podemos demorar, dizem que há mais de 500 degraus para subir.
Uma ponte! Há uma ponte suspensa sobre o rio, a escassos metros da praia. Um miradouro de ambos os lados. E meninos do rio. Aqui também há meninos do rio. E ninguém lhes paga para se atirarem à água. Fazem-no ao desafio.
A sombra escasseia à medida que subimos em direcção à Garganta do Paiva. O percurso é íngreme. A vegetação rara e rasteira. A longa subida que dá acesso à escadaria serpenteia pela serra. Parece não ter fim. Há quem decida voltar para trás. E quem não se dê por vencido.
Uma vez alcançados os degraus de madeira, é precisa coragem para subir ao topo, depois de quase três horas de caminhada. Do miradouro...ah, do miradouro podemos abraçar Vale do Paiva.
A praia fluvial do Areinho fica a cerca de dois quilómetros. O percurso é descendente, mas há quem, tal como eu, prefira inverter o sentido e regressar a Espiunca.
O areal da praia fluvial de Espiunca continua repleto de gente. Há bolo caseiro à venda e fruta fresca. Pedimos uma fatia e sentamos-nos a dois ou três palmos da água. O som dos chocalhos...outra vez o som dos chocalhos! Levanto os olhos e lá vão elas, as cabras serranas, monte acima, indiferentes à nossa presença.
Quedas de água, Serra da Freita |
O rio Paiva é um dos rios mais limpos da Europa. Nasce na Serra de Leomil, a 860 metros de altitude, na aldeia do Carapito, em Moimenta da Beira. |
Praia fluvial do Vau, Geoparque de Arouca |
O passadiço dá acesso a locais onde o Homem nunca tinha chegado. |
Geosítio da Garganta do Paiva |
Praia Fluvial do Vau |
Uma varanda sobre o rio, com um beiral em madeira de um lado e rocha revestida de variadíssimas tonalidades do outro, graças à diversidade da vegetação. |
Natureza em estado virgem. |
O lado mais selvagem da natureza nas margens do rio Paiva. |
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