sexta-feira, 20 de março de 2015

Viagens no tempo # memórias #


Na casa dos meus avós encontro a minha infância. O cheiro da sopa fervente ao lume. Dos sonhos de abóbora. Da broa quente, acabada de sair do forno a lenha. Dos folares da minha mãe, amassados à mão na gamela de madeira.
Na casa dos meus avós, ainda tenho a minha cadeirinha de madeira. A minha caneca de barro amarela. O meu canto à lareira. A casa de brincar. O banco de três pés do avô, que servia de mesa. Uma boneca, só com um olho, metida num berço cor-de-rosa. A única que restou. A mãe diz que eu tinha umas mãos destruidoras. E as panelas verdes, que vieram de Braga.
Na casa dos meus avós encontro cada coisa e cada pessoa no seu lugar, mesmo quando já não está. Na janela da sala piscam as luzinhas da árvore de Natal, que o avô foi cortar comigo ao pinhal. No armário da cozinha, a geleia de marmelo da avó e o pão de especiarias, francês.
Na casa dos meus avós, que agora é só da minha avó, nem o avô falta, ao ritual do chá, que ele tanto gosta de partilhar comigo, nas tardes frias de Inverno, à lareira.

Na casa dos meus avós estão guardados grandes tesouros. As memórias de uma menina feliz.

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