Meto, apressadamente, as botas pretas de cano alto nos pés. As pregas da saia encarnada baloiçam ao sabor do vento, enquanto desço a escada. A caneca de barro, amarela, onde o leite vai arrefecendo, e as torradas estão em cima da mesa de madeira, no andar de baixo. Não me vou sentar, é tarde. O avô já pegou na mochila e na lancheira de palha, que me trouxe da feira, no ano passado.
Vai levar-me à escola, como faz todos os dias. Aconchega-me nos braços, para me proteger do vento gélido, que teima em cortar-me as mãos, desprotegidas. As luvas ficaram em cima da lareira. Ao longe o relógio anuncia as 9 horas. O avô despede-se de mim, afagando-me o cabelo. Devolvo-lhe um sorriso.
A professora Salomé ainda não chegou. É o primeiro dia de aulas depois das férias do Natal. Estou curiosa. A professora disse que haveriam novidades no início do novo ano. A sala está gelada. Não há aquecimento. A chuva bate ruidosamente na vidraça. Sinto as pernas tremelicarem dentro dos collants azuis-escuros. Será frio? Ansiedade?
"Meninos teremos uma biblioteca itinerante, a partir da próxima quinta-feira, aqui na aldeia", anunciou a professora. Biblioteca itinerante? O que é isso? Pensei, expectante. Fosse o que fosse. Se era uma biblioteca haviam livros. Muitos livros. Ufa, estava cansada de ler sempre as mesmas estórias.
No minúsculo armário que ocupava o fundo da sala de aulas só havia meia dúzia de livros perdidos no meio das canetas, dos lápis, dos blocos de folhas, do giz, dos legos e do dominó que por ali se amontoavam.
A carrinha vermelha, com a inscrição "Biblioteca Itinerante Fundação Calouste Gulbenkian", estacionou no largo do café, por volta das 18 horas. O condutor, um senhor de meia idade, saltou da carrinha e fez deslizar a porta lateral, enquanto a sua acompanhante, a professora Matilde, cumprimentava as crianças.
Do seu interior dezenas de meninos de papel sorriam para mim. Sem perder tempo, aproximei-me da entrada. Queria muito saber o que têm para me contar. Onde vivem. Com quem. O que fazem.Tinha tantas perguntas para lhe fazer.
A professora Matilde explicou-me que só poderei levar três livros por semana, para casa. Ohhhh só três! Só me faltava esta! E agora quem é que levo comigo? A Anita? A fada Oriana?
A professora Salomé ainda não chegou. É o primeiro dia de aulas depois das férias do Natal. Estou curiosa. A professora disse que haveriam novidades no início do novo ano. A sala está gelada. Não há aquecimento. A chuva bate ruidosamente na vidraça. Sinto as pernas tremelicarem dentro dos collants azuis-escuros. Será frio? Ansiedade?
"Meninos teremos uma biblioteca itinerante, a partir da próxima quinta-feira, aqui na aldeia", anunciou a professora. Biblioteca itinerante? O que é isso? Pensei, expectante. Fosse o que fosse. Se era uma biblioteca haviam livros. Muitos livros. Ufa, estava cansada de ler sempre as mesmas estórias.
No minúsculo armário que ocupava o fundo da sala de aulas só havia meia dúzia de livros perdidos no meio das canetas, dos lápis, dos blocos de folhas, do giz, dos legos e do dominó que por ali se amontoavam.
A carrinha vermelha, com a inscrição "Biblioteca Itinerante Fundação Calouste Gulbenkian", estacionou no largo do café, por volta das 18 horas. O condutor, um senhor de meia idade, saltou da carrinha e fez deslizar a porta lateral, enquanto a sua acompanhante, a professora Matilde, cumprimentava as crianças.
Do seu interior dezenas de meninos de papel sorriam para mim. Sem perder tempo, aproximei-me da entrada. Queria muito saber o que têm para me contar. Onde vivem. Com quem. O que fazem.Tinha tantas perguntas para lhe fazer.
A professora Matilde explicou-me que só poderei levar três livros por semana, para casa. Ohhhh só três! Só me faltava esta! E agora quem é que levo comigo? A Anita? A fada Oriana?
A decisão não foi fácil. Mas sentia-me bem acompanhada nessa noite. Até perdi o sono. Os deveres, esqueci-me de fazer os deveres. Não interessa! Não posso abandonar a velha. Nem o moleiro. Nem o poeta. Nem o lenhador. O que seria deles sem mim?
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