Não gosto de poesia. Nem de ler. Nem de escrever. Os últimos poemas que escrevi foram para o meu pai, na escola primária. E agora o que é que eu faço? -- pensei para comigo, quando recebi, em 2014, o convite da Chiado para contribuir com um poema para a Antologia de Poesia Contemporânea.
Vou recusar, foi o primeiro impulso. Não
sei escrever em verso. A poesia é uma espécie de prosa cantada. As palavras têm
que se conjugar harmoniosamente. A poesia conta estórias. Tem que haver um fio
condutor. A rima, não é obrigatória, mas embeleza o texto.
O tema. Oh meu Deus o tema -- "
Entre o sonho e o sono". O que é que acontece entre o acto de dormir e o
de sonhar? O que pode acontecer? Não faço ideia!
Estava perdida. O gato dormia aos meus
pés, junto à lareira. As folhas brancas esquecidas sobre a mesa.
Deitei os olhos à poesia de Pessoa, da Florbela e da Sophia. Nada. Isto
não me diz nada. Fecho o livro. Fixo a chama incandescente que ilumina a sala.
Levo a chávena de chá aos lábios. Começo a rabiscar as folhas. Já não pertenço
aqui, senão fisicamente.
Palavras sem nexo. Dicotomias. Versos
soltos. As folhas começam a ganhar cor. Preciso de uma fonte de
inspiração! O amor, porque não?
Et voilá, surgiu o poema que me havia de
levar ao palco do Casino Estoril. Este ano voltaram a convidar-me. Repetiu-se o
dilema. Mas mais uma vez consegui construir um pequeno poema. Mais uma vez o
amor serviu-me de inspiração. E mais uma vez lá estarei para uma tarde
memorável de poesia.
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