As melhores viagens da minha vida as fiz,
durante anos a fio, com o meu avô.
À lareira, nos serões de Inverno. Duas cadeiras
de madeira, velhas. Duas chávenas de chá. Os meus olhos pregados às lentes,
amareladas, donde o olhar dele parecia ausente.
No tapete de Arraiolos, nas tardes quentes de
Verão, embalada pela sinfonia. Interrompendo-o, vezes sem conta, à procura de
mais uma resposta que sossegasse a minha, infinita, curiosidade.
Lembro-me de como me pegava, carinhosamente,
pela mão, à entrada do vapor que nos havia de levar a conhecer esse Portugal,
pequenino, dos anos 40 e 50 e a Europa do pós-guerra.
Demorámo-nos pela França, em reconstrução, dos
anos 50, 60 e 70. Pelas catedrais parisienses. Era aqui que ele trabalhava. Era
aqui que partilhávamos os saudosos queijos brie, o queijo com nozes, ou a tarte
de queijo da avó, que nos chegava em épocas festivas.
Ocasionalmente, íamos à Bélgica visitar os Garcia, casal português, amigo do meu avô. Éramos sempre bem recebidos. E a
comida que a D. Albertina nos servia. Hummm, tipicamente portuguesa, para matar
as saudades que moravam dentro do peito.
Foram tantas as viagens que fizemos juntos. Até
ao dia em que o meu avô partiu numa viagem sem retorno. E, eu fiquei sem o meu
companheiro de aventuras.
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