quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Biblioteca Joanina

 
Faltam-me as palavras. Ou o vagar que elas exigem, quando lhe falo, caríssimo leitor, de uma das mais belas bibliotecas do mundo. Pobres. Humildes. Quase inconscientes. Envergonham-me, na mais poética das hipóteses, quando olho à minha volta, e as adivinho alinhadas numa cumplicidade perfeita.
São sessenta mil os livros que adornam as, só por si, magníficas estantes da Biblioteca Joanina. Pertencem a coleções antigas, que datam dos séculos XV, XVI, XVII e XVIII, e que representam o que de melhor se produzia na Europa culta do seu tempo. No cofre da biblioteca encontram-se exemplares de extrema raridade, como a primeira edição dos Lusíadas, uma Bíblia Hebraica [século XV] que resistiu à Inquisição, e a Bíblia Latina das 48 Linhas, considerada a mais belas das quatro primeiras Bíblias impressas.
Sente-se no folhear dos livros, o cheiro do tempo. Na textura das folhas. E no desgaste das lombas. Mas, o espólio da  Biblioteca Joanina mantém-se em boas condições graças às condições do edifício, que funciona como uma verdadeira caixa-forte favorável à conservação dos livros. E à presença de uma colónia de morcegos, que durante a noite comem os insectos. 
Roubaram-me a atenção os livros. Que à Biblioteca, obra prima do Barroco Joanino, acrescentam valor. Mandada construir por El Rei D. João V, patrono das Artes, Ciência e da Cultura, em 1717, é um testemunho notável da política cultural do rei e da situação financeira do país. O interior do edifico, composto por três pisos, encontra-se integralmente revestido por estantes, construídas com madeiras dos trópicos, revestidas com folhas de ouro e decoradas com motivos chineses, numa ode ao exotismo. Os tetos pintados por Simões Ribeiro e Vicente Nunes, com motivos alusivos às artes e à ciência, e coroados pela figura da Sapiência Divina contrastam com o calcário gelado que reveste o pavimento.
Em parceria com a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, a Joanina continua em funcionamento. As obras podem ser consultadas, mediante aviso prévio. "É uma Biblioteca viva que luta para roubar à morte os livros, velhos. O restauro das obras, processo demorado e minucioso, é executado na cave, paralela à Prisão Académica."









Biblioteca Joanina, Pátio das Escolas. Universidade de Coimbra.


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