terça-feira, 4 de agosto de 2015

Casa da Escrita

Jardim interior, Casa da Escrita

Dizem que é da escrita, a casa que já foi do Arco. Encontrei-a no emaranhado de ruelas, que é a Alta coimbrã, a escassos metros da Torre do Anto.
Tantas são as vezes que a simplicidade exterior dos edifícios esconde salas ricamente decoradas, não é o caso. À parte do trabalhado dos tectos, herança do século XIX, pouco há que sobressaia no branco, que se estende pelos vários pisos que constituem a Casa da Escrita. Algumas peças em louça, que ocupam armários antigos, também eles pintados de branco, daqueles que ainda encontro na casa da minha avó. Um piano e algum mobiliário de linhas contemporâneas. No sótão, que foi transformado em biblioteca e sala de estudo, há livros. Revistas e jornais para consulta. Máquinas de escrever. Papel envelhecido, com alguns dizeres de poetas afamados, como Pessoa ou Negreiros. Tinteiros e penas que, que nos remetem, de imediato, para outros tempos.
Não deixa de fazer sentido, todo aquele branco. Todo aquele vazio. Permite a quem por ali passa pintá-lo da cor que lhe aprouver, nas linhas de uma folha de papel ou em pensamento.
A tranquilidade, quase religiosa, do interior do edifício estende-se aos jardins. O traçado azul e amarelo, da azulejaria tradicional portuguesa, que reveste o limite inferior dos muros, é o único apontamento de cor, além daqueles que a mãe natureza se encarrega de conferir ao espaço. 
O jardim está deserto. As cadeiras abandonadas, ao sol. As folhas de papel, virgens, anseiam pelo toque da pena que lhes há-de tirar a imaculada brancura. Vamos escrever? Que é da escrita, que a casa é.

Jardim interior

Biblioteca/Sala de Estudo






Da varanda, avista-se o Mondego.

Casa da Escrita, Alta de Coimbra, Património da UNESCO.

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